Copiosamente sentava-se à meia luz.
Não se escondia de ninguém em especial: suas falhas eram pecados somente a si mesma.
Fazia anos que não se olhava no espelho e talvez por isso ignorava os destemperos que o tempo havia feito em si.
Projeção de uma imagem verdadeira, não encarava os fatos tais e quais a sociedade teimava em lhe impor, diariamente.
Via cética, sem ética – descrente mais ou menos como um palhaço diante de platéia vazia em pleno espetáculo de furor.
Advinha futuros, sortes, dissabores e amores.
Não lia mãos ou cartas ou copos ou entidades ou sequer mesmo lia entrelinhas.
Lia adornos tortos e passos descompassados de almas pouco viventes e muito crentes.
Dizia e relatava o discurso: sua vida não tem sido fácil, não é mesmo minha querida?
E que bálsamo para o contato senão a imaginação flutuante de quem o recebe?
Mitigando soluços, pedia calma ao mundo.
- Vejo que tua história vai mudar, em breve.
Havia feito a boa ação do dia.
Certo que credo em abstrato a deixava cansada.
Confusa, zonza, evitava o próprio destino.
Alimentava sonhos e cores para qualquer um.
Remetida ao próprio descaso, buscava o baralho e blefava sem medo.
Que a seta fosse o caso ou acaso: redobrado de medo, pálido e cansado.
O mundo devolve a sina, devolve o pudor rubro.
Feito unha vermelha que descasca, a lasca dói em quem sente.
Caroline Bozzetto - Costurando Letras
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