Eu já fui dessas de pouca crença e de esquecer qualquer sílaba. Já
acreditei pouco e rindo, assim que virasse as costas, ou de dar as costas
quando o telefone prometesse ligar. Hoje em dia, eu sou daquele time que
acredita muito, e sempre. Contrariando ao que dizem por aí, que nosso cérebro
inicia seu processo de envelhecimento aos vinte e sete anos, a cada dia minha
memória de elefante ganha fôlego novo e mais algum espaço. Eu nunca vou
esquecer de um a palavra e tampouco de algum sinal que eu prometo nunca interpretar mal. Eu vou cobrar, ainda que de forma silenciosa, a promessa. Não
sou protestante em cada porta, mas o meu coração conta as dívidas. É
instintivamente que as barras aqui vão crescendo. Porque eu juro, eu não
esqueço. Eu lembro frases, cenas e tudo o quanto mais foi dito debaixo das
gotas tortas que caem do chuveiro. Eu transpasso cada letrinha, às vezes já
morta, de toda a saudade de um passado presente que eu gostaria muito que ainda
tivesse futuro. E talvez porque eu sempre acredite que mais um romance pode ter
remédio, eu guardo cada memória e cada promessa. Dessa vez, essa de dizer que
vai me cuidar. Eu acredito em cada respiração mais ofegante, em cada abraço
mais apertado e em cada aperto na cintura. Acredito até naquelas brincadeiras tortas
que justificam umas ausências. Talvez eu no fundo sempre tenha acreditado em
tudo, só nunca tive paciência para levar a sério. E brindava, também, já que
sorrir e piscar nunca foi difícil. Mas agora, eu olho para o Céu e só peço que
seja verdade. E que seja logo, para que não dê tempo de a saudade bater forte.
Caroline Bozzetto - Costurando Letras
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